Dieta cetogénica e ganho de massa muscular: aliados ou inimigos?

Nos últimos anos, a dieta cetogénica tem vindo a ganhar popularidade entre os desportistas. Esta dieta consiste na restrição (quase) total de fontes de hidratos de carbono, correspondendo apenas a cerca de 5-10% da ingestão calórica total diária.

Uma vez que a fonte energética primária que o organismo utiliza provém de hidratos de carbono, como é que é possível manter esta dieta?
A resposta está no seu próprio nome. A dieta cetogénica faz com que o organismo utilize corpos cetónicos como energia, que são obtidos através de ácidos gordos produzidos pelo fígado. Ou seja, o organismo é forçado a utilizar gordura como fonte primária de energia.
A este processo dá-se o nome de cetogénese.
É expectável que exista alguma dificuldade na adoção desta dieta. Existindo toda esta nova adaptação do corpo, nunca antes necessária, a fadiga é o sintoma inicial mais comum, assim como tonturas, náusea e dores de cabeça.
A dificuldade em praticar atividade física e a falta de força e resistência são habitualmente reportados, gerando consequentemente inconsistência e desmotivação.

E para a massa muscular? É eficaz?
A dieta cetogénica pode ter benefícios em algumas pessoas. Por exemplo, melhora os padrões de insulina e glicose sanguínea e de inflamação, quando existe desequilíbrio, o que tem o seu contributo na hipertrofia muscular. Isto acontece por exemplo em indivíduos com excesso de peso e obesidade.

Mas é benéfica para o aumento de massa muscular quando não existem estes desequilíbrios metabólicos?
Então, conclui-se que:
– A dieta cetogénica reduz os níveis de insulina. Apesar de benéfico em várias situações, como referido acima, a insulina é anabólica e, portanto, promove o aumento de massa muscular;
– A dieta cetogénica dificulta a tolerância ao exercício físico, pelo menos a curto prazo;
– Os hidratos de carbono continuam a ser a fonte primária de energia em atletas de alta competição. Com a adoção desta dieta, o desempenho estará naturalmente comprometido;
– Reduz os níveis de hormonas que promovem o aumento de massa muscular;

– Os resultados de vários estudos indicam que existe um decréscimo ou, no máximo, a manutenção de massa muscular em praticantes de exercício que iniciam uma dieta cetogénica, mas não o aumento desta.

Pode então ser considerado que a dieta cetogénica não é a melhor estratégia para o ganho de massa muscular, nem para a melhoria do desempenho físico. Com isto, não significa que não possa ser uma estratégia válida em determinadas circunstâncias. Se tem desregulações hormonais, como a resistência à insulina, ou síndrome metabólica, a dieta cetogénica pode ser utilizada de forma temporária, para ajudar na recuperação do eixo hormonal, o que contribui a longo prazo para o ganho de massa muscular.